IDENTIDADE DA MULHER GORDA: a gordofobia no livro infantil A chata daquela GORDA, e no romance A Gorda.
Literatura comparada. A chata daquela gorda. A gorda. Identidade. Mulher gorda.
A literatura complementa a construção da identidade humana por meio da reflexão que promove, dando acesso às mais variadas culturas por meio da expressão individual e do pensamento. Obras contemporâneas com protagonistas gordas não passaram por uma análise crítica que aponte se há uma representatividade positiva da sua identidade ou reforço de preconceitos como a gordofobia. Este trabalho tem como objetivo analisar e sintetizar aspectos formadores da identidade das personagens femininas gordas em duas obras da literatura de língua portuguesa contemporânea: o livro infantil A chata daquela GORDA (2005) de Regina Drummond e o romance A Gorda (2016) de Isabela Figueiredo. A opção por este tema leva em conta a importância de investigar a representação literária de duas protagonistas pertencentes a um grupo estigmatizado em suas vivências infantis e experiências adultas. Partindo dos percursos de autoconsciência das mulheres escritoras estabelecido por Elaine Showalter (1977), analisamos as obras dentro do Bildungsroman e como a trajetória das protagonistas relacionam-se com o discurso de Susie Orbach (1978) da gordura como uma questão feminista. A construção dos elementos de identidade das protagonistas segue a manifestação de gordofobia presentes na estética e enredo de ambos os livros, conectando-os com os registros de experiências reais de mulheres gordas na sociedade brasileira contemporânea colhidos por Agnes Arruda (2019) e Maria Luisa Jimenez (2020). A mulher gorda recebe tratamento diferenciado carregado de exclusão, humilhação e violências em todas as áreas de sua vida, principalmente no ambiente escolar e familiar. Esse comportamento gordofóbico baseado no preceito de que o corpo gordo é “ruim” normaliza o preconceito fazendo com que a vítima internalize estes discursos discriminatórios. O “final feliz” das protagonistas gordas destas obras remete à solução dos problemas pelo emagrecimento, matando sua identidade gorda figurativa e literalmente.