HEROÍNAS NEGRAS BRASILEIRAS: DA CONDIÇÃO DE OBJETO PARA SUJEITOS DA HISTÓRIA REPRESENTADOS NA LITERATURA DE CORDEL DE JARID ARRAES
Literatura de Cordel. Subalternidade. Heroínas negras.
Esta dissertação propôs destacar as características de mulheres negras apresentadas como heroínas em cordel de Jarid Arraes (2017), revisando aspectos relacionados à condição da mulher escrava no Brasil, para dar visibilidade à sua participação na luta pela liberdade dos escravos, considerando que, historicamente, foram tratados como objeto/mercadoria e tiveram suas ações suprimidas da história, referido como o paradigma da ausência do negro nos registros oficiais, sobretudo no que tange à participação da mulher nesse processo. Para tal, o livro Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis, de Jarid Arraes (2017) foi definido como o corpus, justificado pela relevância da temática que apresenta, também por ser produzido em cordel, um gênero literário que, semelhante ao tratamento oficial dado ao protagonismo dessas mulheres, por muito tempo, teve seu valor colocado à margem do que se considerou Literatura; e, ainda, porque tem, como autora, uma mulher negra: elementos que dialogam entre si. No primeiro capítulo, apresenta-se a cordelista e aspectos relativos à história e estrutura do cordel, considerando o silenciamento de mulheres cordelistas. No segundo capítulo, apresentam-se as heroínas da obra e cordéis que evidenciam a condição de objeto a que foram submetidas. E, no terceiro capítulo, a história é revisitada e se resgata, pelos cordéis, o protagonismo exercido pelas mulheres negras em favor da libertação do seu povo. A análise da obra possibilita, entre outras, as seguintes conclusões: o cordel como gênero literário relevante e com forte potencial didático; a mulher negra instruída acerca de sua ancestralidade tem aumentadas suas possibilidades de emancipação e empoderamento, apesar das desigualdades de gênero e raça que persistem; o papel significativo que jovens escritoras negras desempenham na propagação do legado dessas heroínas, abalando, assim, o paradigma da ausência da mulher negra na história oficial da escravidão brasileira.