Impactos de mudanças no uso da terra sobre a integridade de florestas de zonas ripárias na Amazônia
atributos funcionais, desmatamento, efeito de borda, plasticidade fenotípica, uso da terra
As florestas ripárias são fundamentais na proteção da biodiversidade e dos recursos hídricos, assim são prioritárias para a conservação em paisagens antropizadas, porém a fragmentação associada à expansão da agricultura nos trópicos ameaça sua integridade ecológica. Nesse contexto, comparamos a estrutura, a diversidade e os atributos funcionais das florestas ripárias tropicais dentro de bacias hidrográficas intactas (n=4) e em paisagens agrícolas (n=6), em uma região de intensa produção de soja no sul da Amazônia brasileira. Estudamos parcelas de floresta ripárias distribuídas em dez bacias hidrográficas, com largura entre 120 a 210 m, sendo que as florestas em paisagens agrícolas foram mantidas para atender à Lei Federal 12.651, que trata da proteção à vegetação nativa. Verificamos que as florestas ripárias em paisagens agrícolas tinham menos espécies de árvores e mudas e apresentavam maiores proporções de espécies arbóreas oportunistas e pioneiras em comparação com as florestas ripárias intactas. Também encontramos maior variação na composição das espécies arbóreas e maior dissimilaridade interna nas áreas em paisagens agrícolas em comparação com as florestas intactas. As florestas mais próximas a córregos em paisagens agrícolas e as bacias com florestas intactas eram mais semelhantes umas às outras. Analisamos 123 espécies quanto aos seus atributos funcionais, sendo 52% comuns aos dois ambientes, 27% restritas às paisagens agrícolas e 21% às florestas intactas. A espessura da folha e a concentração de potássio foram os atributos funcionais com maior plasticidade fenotípica para espécies comuns aos dois ambientes. As espécies restritas às florestas intactas tiveram maior área foliar específica em relação às espécies restritas às paisagens agrícolas. Notamos, ainda, que em florestas intactas as espécies tendem a adotar estratégias aquisitivas e em florestas situadas em paisagens agrícolas predominam estratégias conservativas de recursos. Os resultados sugerem que, em paisagens agrícolas, seriam necessárias faixas mais largas do que as exigidas por Lei para manter a estrutura, a diversidade e os atributos funcionais de espécies arbóreas de florestas ripárias no sul da Amazônia. Assim, as faixas ripárias mínimas de 30 m exigidas pela Lei podem, portanto, ser insuficientes para evitar mudanças de longo prazo na composição, na estrutura e nos atributos funcionais dessas florestas.